sábado, 26 de fevereiro de 2011

Morfeu Pior Que Eu.

Seu sono crítico
Sem ritmo pra continuar
Morfeu pior que eu
Sonhou
Dormiu
Morreu
Na noite tortuosa
No lago preto breu
Seu discurso tanto faz
E o que viu por lá
O vento trás
Perdendo as flores no caminho
Num cantinho surreal
Distante da lucidez
Amargando tudo pelas beiradas
Deixando pra marcar estradas
Com coisas dos sonhos nossos
Um laço
Um canto
Um traço
Feito sonho crítico
Que sem ritmo se vai.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Desfolha.

Desprendeu-se do galho
Caiu na estrada e revelou-se
Desfolhou a pele morena
Chamengo do sol
Esconderijo de sombra
No espelho negro dos olhos
Fez-se mudo e brotou no solo rente
Sem plano, sem vento
Sem tempo, sem ano
Fácil lembrança do que era
Ou uma simples utopia de vida
Traços e tintas
Numa estrada sem acostamento
Nem carências nem lamentos
Da flor que não quis enraizar
Vaga no mundo
Feliz em voar.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Forasteiro.

Sou um cabra da peste
Difícil de lidar
Criado no agreste e rejeitado pelos pais
Por sonhar demais
Pensar demais e mais e mais
E quem acha que eu sou um zero à esquerda
Com certeza não me conhece
Sei das coisas do mundo
E não é atoa, não
A vida de vagabundo
Me fez sentir as coisas todas
Dia ruim tenho vários
Dia bom tenho todos
Cicatriz é consequêcia de quem vive
E sou cheio delas
Dentro e fora de mim
E pra disfaçar revivo aquele velho baião
Na estrada de barro, da poeira do chão
Do chinelo rasteiro
Rasteira multidão

Forasteiro feito aqueles do velho oeste
Já matei o diabo por três vezes
E três vezes mais se ele voltar
Porque eu vivo de baixo de sol
Encima do chão quente de morrer
Da estrada quente de rachar
E gosto dessa vida na mochila
Daquele compacto no fim da tarde
Do cacto quebrando a paisagem
E da fogueira inca feita natural
Do barzinho de quinta no meio do nada
Das prostitutas velhas e sujas no meio da cama
Do dinheiro roubado no meio da mesa
E no meio da goela pinga queimando
Queimando garganta à baixo
E a felicidade garganta à fora
Então eu grito o que eu sou
Um dez à direita
Aquele que matou o diabo
Diacho, levo a vida na cor.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

E
Eu
Eu só
Eu só quis
Eu só quis você
Eu só quis você perto
Eu só quis você perto de
Eu só quis você perto de mim
Eu só quis você perto de mim, mas
Eu só quis você perto de mim, mas as
Eu só quis você perto de mim, mas as palavras
Eu só quis você perto de mim, mas as palavras afastam-te
Eu só quis você perto de mim, mas as palavras afastam-te no
Eu só quis você perto de mim, mas as palavras afastam-te no fim
Eu só quis você perto de mim, mas as palavras afastam-te no
Eu só quis você perto de mim, mas as palavras afastam-te
Eu só quis você perto de mim, mas as palavras
Eu só quis você perto de mim, mas as
Eu só quis você perto de mim, mas
Eu só quis você perto de mim
Eu só quis você perto de
Eu só quis você perto
Eu só quis você
Eu só quis
Eu só
Eu
E

Um Dia de Chuva.

Acordei no meio da madrugada
Com gotas de chuva escapando
Pela brecha da janela aberta
E lavando meu rosto gelado pelo frio daquela hora
Na primeira noite de poucas
Em que a insônia não me visitou
E enfim me deixou dormir mais cedo
E mais cedo acordei pra um dia de chuva

Enquanto lia o jornal da semana passada
A chuva ainda rolava solta na rua, na lua ainda no céu
E foi assim enquanto pegava o ônibus
E enquanto descia dele
Ao som de "Champagne Supernova" do Oasis
Pra pintar nas telas daquelas moças
Daquelas poucas em que ainda falo

Cansado de andar na margem das coisas
Pra chuva não me banhar
Coloquei  meu chinelo severino
Ou de Jesus Cristo como dizem
Dentro de uma sacola doada
Por uma velha sorridente que nem vou esquecer
Assim como um retirante bruto
Desses caipiras no meio da cidade grande
Me pus a andar naquele temporal
Descalço, calça branca, sacola na mão
Mochila pesada guardando um bocado de discos do Chico

Andava lento, como quem tivesse debaixo de sol
Sendo olhado por todos que tinham medo da chuva fria
E naquela caminhada de alguns minutos
Todas as horas da minha vida me sorriram
E passaram velozes na minha cabeça
Saudade de lugares, de amigos, de parentes
Saudade de mim mesmo, saudade de quem nunca vi
De pessoas que ainda não conheci
Lembrança do meu primeiro livro, "O Menino de Brodósqui"
Velho Haroldo me mostrou o eterno Portinari
E num cenário bonito minha vida em minutos
Assim como minha mãe falava de Renato Russo

Minhas lágrimas beijavam as gotas daquela chuva
E transavam em grande harmonia e simetria
Virando uma só no ponto de fuga do queixo
E enquanto andava, ali, na tempestade
Ventania forte balançava minha "bolsa de mandiga"
E via o brilho do colar
E que aquilo podia ser Deus ou Zeus
Ou o universo nos pequenos detalhes

A chuva me banhou como nenhuma água fez
Lavou a pele da minha alma
E me entregou algo que não tem explicação
Acho que me trouxe a mudança
Revigorou o leonino manso
Tranquilizou um corpo inquieto por dentro
E despertou mais sensibilidade ao olhar o mundo
E entender que mesmo um vagabundo tem seu valor
Então, vamos nos molhar nessa chuva que transforma
Esquecer a água pra se afogar
Quando tudo pode tá perdido
Deixem a janela meio aberta em um dia de chuva
E tudo pode começar a mudar.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Verdade Leonina

Reconheço bem, meu bem
Os azulejos que pisei
E os realejos que escutei
Enquanto o tempo se desfazia
Em poeira, vento, ventania
E que se perderam nos cantos do mundo
Feito sopro mudo
No ouvido de quem se fez surdo
Pra verdade não escutar
Então a canalhice encheu o peito leonino
E cantou um baião nordestino
No lugar de quem calou-se
Pra ver o mundo estancar em mentira
E esquecer da verdade que Caetano tando dizia
E repetia em cada devaneio nacional
Realidade morta, vista torta, verdade tropical.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Relógio da Vida na Morte.

Eu pensei que quando eu morresse
O tempo pararia pra mim
E veria o tempo passar em desgraça
No relógio de quem ainda vive

Descobri que o tempo corre na morte
E traz consigo sofrimentos de uma era
E já era aquela minha fantasia torta
Que coisa morta dorme em paz

A morte imita a vida com todos os mais
A diferença é que não sofremos por nós
Mas carregamos as consternações de vocês
Em costas largas e cansadas por tanta dor
E choramos por pecados do tempo vivido

Então, o que há de bom em morrer?
Só queria acordar para o mundo
E ver o meu tempo rolar em metros de chão
Dançar meu baião vagabundo e arrastado
E sentir a minha própria dor.