quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Se até os peixes que são frios
E vivem no gelado possuem sentimentos
Porque você não consegue amar?
Quando eu tirar essa pele que colocaram em você
E você conseguir sentir o sol tocando o seu corpo
Vai conseguir respirar com seus próprios pulmões
Sem arrebentá-los como fazia antes
Então vai poder voar o mais alto que puder
E quando cair não vai chorar
Vai sorrir por ter conhecido o som que faz o vento
Seus pensamentos não vão ser esquecidos
Nem perdidos como tempo em que viveu na gaiola
Será que você vai suportar viver fora desse frasco?

Não vai se espantar quando ver toda essa sujeira
Porque a liberdade é incrível, mas ela também pode ferir
E isso não é mais novidade
Então é isso mesmo que você quer?
Talvez parte de você esteja pronta pra conhecer o mundo
E parte ainda esconde um medo de pisar fora da cama
Liberte todas as suas angustias
Ninguém pode te julgar
Por ser uma planta que não quis enraizar
E que paira feito ave no céu, liderando o movimento
Formulando o infinito como resto de extensão.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Sistema Circular.

A saúde é um estado de espírito
E agora vocês se sentem tão bem
Muito além da pele que habitam
Que teimam e não querem voltar
Alguma coisa qualquer entre vocês morreu
E tem gente querendo encontrar
No olhar dos olhos gregos
Nas mãos espalmadas de Hamsá
O imaculado segredo
Que se esconde no útero do mundo
Em um mistério astral que rege o sol
Guardado em um universo de versos feitos e esquecidos
Porque a vida requer mesmo um pouco de sofrimento
Acreditar no que não existe
Ser gigante e tão pequeno
Sem tempo pra recuar uma milha
E se tivessem que cortar alguns sentimentos
Ou tivessem que esquecer o passado
Todos perderiam suas almas
Viveriam com um deserto no peito em carne viva
E andariam vazios pelos jardins floridos
Mas nada disso é novidade
Nem a realidade dessa existência
Que não consegue enxergar o seu fim
Religião ou ciência, nada disso parece funcionar
Quando algo está tão fora de controle
Como esse sistema circular.

sábado, 17 de dezembro de 2011

A Erva do Rato.

A erva do rato é a sombra
E a da sombra é o único brilho do sol
Que ilumina a pele tão cansada e mística
Que sempre procura a luz negra pra se proteger
Em um lugar onde nunca esteve antes
Onde a água tem gosto de vinho
E os pés podem tocar uma parte do céu
Cada dia é uma eternidade de prazeres
E as pessoas não quebram você em pedaços
Os laços são sempre de paz e não há dor
Nossas almas caminham livremente
E a erva do homem é o amor.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Poeta Por Acaso.

A voz oscila e paira numa tarde seca
Poeta por acaso
Escondido na pele em carne viva
Marcado a ferro e fogo, fumaça e cinza
Cinzeiro da noite cruzada
Espadas erguidas no ermo
Solidão de quem escreve o mundo
E constrói paredes de maravilhas
Pintadas com tintas do sol e da lua
Tão crua palavra fingida
De um palhaço trovador
Que se reinventa no tempo
Nos ruídos de um realejo
Nos sonhos doridos de um cantador
Buscador de verdades baratas
Um ator encenando um papel
Da vida que corre lá fora
Transformando a tristeza em poesia
E a alegria em mais um passo
Sem um destino exato pra ordenar
A razão existente no azul de amar
Na cicatriz que deixa sempre por um triz
A armadura imaculada da falsidade de uma atriz.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Maçã.

Eu queria ainda saber as cores que você tem
Se o seu cheiro continua o mesmo
Se ainda se perde nas palavras
Ou se ainda vive o rock in roll em seu quarto

Como pode em um segundo não mais te conhecer
Achei que as cartas eram só pra mim
E que seu sorriso só vinha em minha direção
Triste ilusão de um idiota
Que nunca via a porta que você fechava
Mesmo abrindo uma janela pra me iludir

Teus gestos ainda estão guardados
Como uma forma de ti prender
Naquele mundo que era só nosso
E será que você ainda lembra?
Será que você ainda pensa em mim?

Nossas meia-conversas ficaram a ermo
Um meio-termo que você reduziu
Parece nunca ter existido
Diante de um amor que te entregava
E que você nunca me devolvia.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Você Sabe.

Você sabe que tem o gosto da minha mordida
Sabe que tem o abraço forte da minha partida
E é tão meu saber a hora da saída
E é tão teu dizer a hora da minha chegada

Você lê meus versos sempre mudos
Você vê meu olhar calado e surdo
E sabe o que fazer pra acalmar todo o meu surto
Peço desculpas pelo meu lado morto e curto

Você sabe que és a musa dos meus quadros
Sabe que guardei tua imagem em vários quartos
Envidracei o meu olhar em lentos passos
E pintei uma estrela por entre os galhos

Você sabe que eu danço no vazio
Sabe que o silêncio é meu som macio
E sabe que minhas cores não existem neste frio
É só utopia que naufraga esse navio.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Confusa Estação.

Os meios justificam o meu fim
Que descubro nos olhos refletidos de ira
Seis rosas cortadas não impedem a chegada da primavera
E eu não sei com quantas gotas se faz uma tempestade
Ou com quantas revoluções se faz um mundo de paz

Sei que a vitória alcançada está no sofrimento
Nas roupas rasgadas que cobrem as batalhas
Nos sorrisos de quem crê em um recomeço
Que prevejo não ter o fim de cada estação
Nem depois da vida arrancada de mim

Porque são coisas que o vento traz e depois leva
Que o pensamento ignora e depois eleva
Levemente como a queda de uma folha
Que não espera o tempo parar pra poder cair
Assim como as coisas que chegam
E depois precisam partir

Cada rei tem a coroa que merece
E todos nós o mesmo brilho do sol
O ouro universal do infinito guardado em mim
Meio fio de luz do astro rei à iluminar a vida seca
Nem uma nova estação é o fim de nenhuma nova tristeza.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tempo das Tristezas.

Quando chega o tempo das tristezas
Me isolo nos altos das montanhas escuras
Vivo da pesca e me banho com chuva
Sento em enormes amoreiras
E procuro uma cura
Em épocas de frio me agasalho
Com as lembranças de um passado qualquer
E em épocas de calor me refresco
Com os meus sentimentos mais frios
Todos os caminhos que lentamente percorri
Trouxeram-me para esse destino
E agora o leonino não consegue voltar.

Feitos Pra Acabar.

Assim como o tempo de um relógio sem lógica
Fomos feitos pra acabar
Como a luz que violenta cega
E nos cega pra iluminar

Assim como a estrada que marca um fim
Fomos feitos pra acabar
Tão cansados da subida que entrega
Que deixa pra depois roubar

Assim como as borboletas que só vivem algumas horas
Fomos feitos pra acabar
E nada machuca mais que existir
Não segurar as tristezas que saltam de mim.
Talvez a realidade seja insuficiente
Talvez a vida seja mesmo essa coisa breve
Que acaba no final de mais um dia
Me levando pra um infinito circular
E eu só gostaria de ainda ser um bebê
Pra ser protegido e não me proteger

É tão bonito olhar o céu e fazer parte dele
É o mesmo que se misturar as fumaças de cigarros
E deitar esperando que o outro dia seja melhor, nunca é
Mais um dia em que morro no final de 24 horas
E eu só queria ser como uma fênix
Renascendo das cinzas jogadas ao vento.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Olhar de Cego.

É difícil se encontrar em um lugar
Onde todas as pessoas desviam o olhar
Com olhos sempre de medo
Com olhos de cego
E as situações parecem não mudar
Alguma vez você sorriu sem enxergar?

Você espera abrir janelas e ver o sol
Mas panos negros cobrem sua visão
E você só quer ser iluminado
Você quer sair dessa caixa escura?
Você quer encontrar uma nova moldura?

Rasgue sua pele novamente e sinta dor
Você só quer acordar e esquecer do breu
Romper o hímen do mundo
Sair do útero e continuar protegido
Você agora está feliz?

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Poema.

E eu que faço poemas
Poesias que tiro da vida
E versos que colho das árvores
Poeiras que tiro dos olhos
Crio o infinito e o guardo em palavras
É minha forma de expressão
Que luta pra ser absolutamente coração
Mas tudo é tão incompreendido ali fora
E essa é a forma que encontrei pra ignorar a vida
Empregando coisas que ninguém usa no dia-a-dia.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Afastei-me do mundo porque ninguém podia compreender minha mente
Todos acham que eu estou louco por ter olhos de ira o tempo todo
E o tempo todo alucinações e vozes secas me chamam
Nada parece satisfazer-me como deveria
E eu sinto as coisas afastando-se de mim cada vez mais
Acho que eu preciso de alguma coisa pra acalmar-me 
Acho que vou pirar qualquer hora dessas
Porque já vejo o céu desabando aos poucos em cima de mim
E eu não tenho forças pra guardar seus pedaços e reerguer-me 
Você pode me ajudar?


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Vida Inteira.

Você tem apenas esse segundo
Pra me amar a vida inteira
Você tem apenas a vida inteira
Pra pensar em devolver-me.

sábado, 8 de outubro de 2011

Guia do Tempo Cego.

O tempo aqui é cego
E o vento esquece de passar
O fogo que acendo logo apaga
E o meu jogo foi feito apenas pra ganhar

Vou caminhando dentro da minha mente
Me perdendo em cada pensamento
Sou cego como esse tempo
Que já cansa de passar.

Frutos Transcendentais.

Numa jornada de cor, a lua me convidou pra viajar
Cachorro de rua numa noite transcendental
Bueiro de estrelas no meu céu particular
Ordenou-me desfrutar dos frutos astrais
Onde fogueiras queimam estrelas
E florestas guardam um tesouro
Sonhos perdidos de ouro

As cores me abraçam e me cheiram
Meus olhos de cardume desaguam rio abaixo
E de baixo da minha pele cresce e floresce luzes
Que me fazem engolir realezas, Deuses e nobres
Minha mente salta e pulsa corações pobres
E meu nariz inala o perfume dos impuros
O amor cresce em cada toque
E as cores ficam cada vez mais fortes

Os ventos beijam meu rosto e colam contra meu corpo
As vozes querem dançar coladas ao meu ouvido
E eu me sinto suspenso como pó estrelar
Realidade misturada na fantasia azul
Alegria nua nos tocando a alma
E calma a lua morre e o sol nasce no cais
Fumaça sobre a guerra nunca mais.

Perturbador da Ordem.

Desacato a autoridade e nunca me dou mau
Sou um fora da lei e cheiro tão mal
Mesmo assim sou filho de rei
Eu mesmo faço a minha lei
E não me importo em perturbar
Ou de viver além da margem
Mas não vou mudar
Por não viver de forma popular

Me organizo na desordem exposta
E tenho propostas pra gastar
Eu respondo pra perguntar
E não tem erro que me falte
Sou pecado original da carne
Ponho a ordem no abate
E me chamam de anormal
Por querer uma liberdade por igual.

Brilho Solar.

Meu coração salta ao ver o céu e os raios de sol
Assim minha vida começou
Como a luz que existe nos olhos de um leão
Olhos de sol que existirá até o falecimento do ser
E eu gostaria que meus dias fossem assim
Luz lunar ao morrer
Que todos vivessem colados um a um
Que meus olhos não perdessem de vista o brilho
O brilho solar do viver.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Is Jesus Dead?

Alguma coisa boa pra muito longe se perdeu
Um dia será melhor
Prazeres eternos deixados no passado
Nós eramos os melhores daquele lugar
Todo mundo queria nos ver
O tempo rompeu com várias coisas
E Jesus não apareceu para nos salvar
Jesus está morto?

Nós lutamos pela liberdade
E nossa amizade nunca morreu
Nossos olhos tocavam o céu
E a parte mais profunda de nossas almas
Mas alguma coisa teve que queimar
Um adeus aos nossos corações
O tempo cortou nossas carnes
E Jesus com os braços abertos não nos abraçou
É a morte de Jesus?

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Útero de Fadas.

Tenho útero de fadas azuis
Estou fadado a sonhar
Me escondo em asas sem plumas
E minhas lágrimas salgam o mar
Estou pronto para dar a luz 
E expelir todos os encantos escondidos
Devorar a placenta mágica
E pôr para ninar quem nunca dormiu
Quem vai fazer girar esse carrossel
Quando a ventania parar?

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Permutação.

Se eu não me importasse com você
Se eu tivesse que perder uma vida
Ou virasse alguém normal
Não precisaria lidar com sentimentos
Venderia minha alma pra quem quisesse sofrer
Dessa maneira eu não seria como eu sou
E talvez o agir seja mais importante que o pensar
Você está preparado pra isso?

Os resultados nem sempre são os melhores
E minha voz não é tão boa de ouvir
Mesmo quando coberta de mentiras
Mas isso não é notícia nova
Você suportaria ver o meu fim?
Mal posso enxergar alguns metros depois do infinito
O perco de vista e o misturo dentro de mim
Nada é tão bom quanto parece ser
E ninguém consegue conviver a isso.
É tudo o que eu sinto
Um grande desprazer
É tudo o que eu quero
Sentar e morrer
E mesmo assim sou feliz
Acho que apenas sou feliz demais
Quem vai me acompanhar nesse caminho sem estrada?
É só imperfeição essa longa jornada
Que cruza a ponta dos meus dedos
Até o fim do meu último pensamento
Quem vai me seguir se ninguém mais quiser sorrir?

Dentro de Si.

Porque quando eu acordo me desfaço em pedaços
E não sobrevivo aos raios de sol
Nada é feito como eu
Um monte de coisa perdida
Que se encontra no vazio de um tempo sem cor

Vago pelos cantos e me perco em um olhar qualquer
Me desmancho em poeira de estrela sem brilho
E escuto as vozes dos seres sem fé
Não posso me fechar pra realidade
Mesmo quando tudo que vejo seja insuficiente

Guardo meu mundo em um pote invisível
E conquisto os astros perdidos
Como quem esconde os segredos mais restritos
De um sorriso infinito guardado dentro de mim
Que nasce e morre em cada canto, um pranto dentro de si.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Tempos extremos e inconstantes me seguram pelo pé
E me matam cada dia um pouco
Nossos sonhos morreram no cás de um porto qualquer
E minhas lágrimas caem como diamantes brutos
Já  posso procurar um novo lugar para viver
Ou voltar para o útero materno e parar de sofrer?
Lá vivia rodeado por sangue e a paisagem não era bonita
De um modo estranho era feliz no meio de todo aquele horror
Então, me diz, já posso voltar para o buraco?

domingo, 21 de agosto de 2011

André Na Ilha de Patmos.

Dez terços bem rezados por cada erro cometido
Olhar fixo nos olhos de Cristo morto no crucifixo
E então estará salvo por ser assim tão ruim
Agora eles precisam de dinheiro para manter sua fé
Quando errar de novo é só passar no mercado santo
Eles podem trocar sua condenação pelo corpo inocente do seu filho
Ainda acredita neles? Ainda quer ser salvo por eles?

Desse jeito as pessoas más vão se misturar aos anjos
Elas vão conseguir voar com tanto peso sob suas costas?
Os anjos celestiais vão perder sua pureza
Vão se sujar com o sangue traidor dos maldosos
E ouviram pessoas chorando e gemendo em seus corações
Os mares vão secar, o céu será o novo inferno e esse será o novo mar
Quem vai ficar no arquipélago de fogo?

Nosso espírito é limpo, é novo e verdadeiro
É tranquilo e sereno, mas não o suficiente pra ser bom
Vai tá sempre com uma chaga sangrando
E manchando o que as pessoas tem de melhor
Porque suas mesas estão sempre cheias de vômitos
Não há nenhum lugar limpo de verdade
O desmamado se une ao arrancado dos seios e juntos choram

No meio da vida, no leito da morte
Deus e o Diabo juntos num grande lago de dúvidas
Castiçais de ouro por toda parte revelam o que tem por vir
Sete mares de almas salvas e perdidas, arranjadas e proibidas
Sete luas presas ao longo da coluna vertebral de quem tem fé
Sob o rosto coberto pela luz negra, que ilumina o tempo sem cor
Ainda existe motivos para acreditar no amor?





quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Sigo sozinho e assumo os passos dos andarilhos
Faço tratados com os errantes feito eu
Numa prece cósmica tiro grande peso do coração
E converso sobre a vida com quem já morreu
Depois carrego a culpa dos estúpidos nas costas
Mato a sangue frio minhas melhores memórias
E esqueço o que é amar

Flagelo minha mente cada vez que abro os olhos
Deus sumiu com todas minhas vontades
Então acho que já estou preparado para dormir
Conhecer o outro lado da vida misteriosa
Cobrir meu corpo com a poeira das estrelas
E caminhar sem volta ao passado
De quem já está cansado de ter que acordar.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Bosques do Acaso.

Fui para os bosques do acaso
Viver vida tranquila
Longe do caos da cidade
Um lugar perto de grande felicidade
Onde gnomos protegem minha moradia
E fadas voam e viram brisa, vento e ventania
Vivendo um dia na realidade
E seis dias intensos na minha utopia.

domingo, 7 de agosto de 2011

Sereia.

Hoje eu acordei com vontade de desbravar os sete mares
Combater todos os males que assombram minha sereia
E deixar que seu canto me carregue para o fundo do mar
Vou viver de lindos sonhos e dos encantos dessa moça
E será de tinta e fantasia nosso carnaval

Vou pedir pra Deus do Céu, Oxum e Iemanjá
Que mande maré boa, uma vida mais atoa
Pra não cansar o meu nadar vagabundo
Porque é nesse novo mundo que eu vou morar
Com a minha sereia e junto ao grande mar.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Carta Para Voltar.

As vezes pego minha bicicleta e saio sozinho por aí
Reparando nos olhos de todas as pessoas que passam por mim
E eu penso todo momento nas coisas que você deve está fazendo
E se eu ainda posso me encaixar na sua rotina sem tempo

Meu corpo está parando de funcionar completamente
Alguma parte de mim está uma verdadeira bagunça
E como eu sinto muito em ter abandonado a única pessoa que me amou
Agora sinto falta até das coisas que eu mais odiava em você

Oh, por favor, volte para mim, querida
Antes que eu não consiga mais pintar uma imagem sua na minha cabeça
Não sei dá um passo sem você me olhando de longe
Volte antes que o céu me sirva de lençol e as estrelas virem farsas de você.


terça-feira, 26 de julho de 2011

Sobre um Leão, uma Virgem e um Touro.

Deixei partes da minha alma
Nos olhos libertários de um leão
Nas mãos delicadas e seguras de uma virgem
No pensamento sonhador de um touro
Em troca os guardei no coração
E em cada detalhe bonito que encontro
Torno-os presente sempre que sonho
Em um dia poder abraçá-los
E agradecer por serem diferentes dos outros
Gostar de quem nunca se viu
E me fazer amá-los como irmãos
Dia desses matarei a saudade à queima roupa
Tudo isso porque preciso de vocês por perto.


domingo, 24 de julho de 2011

Espírito Adolescente.

Era como descer sem medo pelas montanhas rochosas
Ter as gotas da chuva cravadas como facas em suas costas
Escoar como um rio, que desemboca violento na boca de um dragão
Queimar por dentro como fogo e depois esfriar sua alma com a brisa
Era como ser um mar feroz, que nunca manda a mesma onda
Um eterno cavalgar montado em um cavalo dourado
Que galopa no vento e te coroa rei 
E nada machuca mais que um olhar desviado
Que uma flauta de som gasto e traidor
Eterno adolescente errático
Espírito que o tempo teima em mudar.


sexta-feira, 22 de julho de 2011

Da minha janela vejo tantas outras janelas
E dessas janelas vejo tristezas
Que até parecem as minhas, só que piores

Ainda bem que não vivo por trás delas
Será que a vizinhança anda assim tão mal?
Ou é culpa minha de escolher a janela errada para olhar?

Meu gato lambeu meus dedos três vezes querendo leite
Depois me contou que não eram janelas, eram espelhos.

Sobre um Quarto.

Naquele quarto branco e preto
Chapéu marrom que guardava todos os pensamentos
Chaplin observador de cenas eróticas
Era colchão na parede pra amortecer a batida
Televisão falhada, dupla imagem, dupla mentira
Uma cama desconfortável de molas cansadas
Arte na parede, desenhos, notícias de jornais
E nossos heróis suicídas, drogados e mal interpretados
Imortalizados em quatro paredes
Uma vitrola surrada sempre tocando o som certo
Que combinava perfeitamente com a lua
Que fazia uma visita toda noite pela janela com grades
Livros espalhados pelo chão e ao pé da cama minhas tristezas
E a beleza de sonhar presente em todos os cantos
E todos os prantos virando um grande mar.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Alguma vez vocês acharam que a realidade não é suficiente? Ou tiveram que tomar algo para ver o mundo nos detalhes miúdos? Alguma vez vocês sentiram seus pés andando, mesmo quando eles estavam parados? Ou escutaram alguém chamando seu nome enquanto caminhavam sozinhos numa rua deserta? Talvez não fosse a morte gritando seus nomes, talvez fosse alguém chamando vocês em pensamento do outro lado do país.
Já observaram casas desconhecidas e imaginaram suas rotinas ali? Ou se perguntaram como sua vida poderia ter tomado um outro rumo se tivesse escolhido aquela segunda opção que havia ignorado anteriormente? Vocês já confundiram sonho com a realidade? Ou amaram verdadeiramente, por alguns minutos, um total desconhecido? Alguma vez vocês amaram verdadeiramente alguém? 
Talvez eu seja maluco, talvez eu seja um grande problema, talvez eu seja insuficiente a mim mesmo, talvez eu seja terra nos olhos do mundo, mas talvez eu também seja os óculos escuros dele. Talvez o meu problema seja o de acreditar demais nas pessoas. Acreditar demais até mesmo em quem nunca existiu. Talvez eu seja como as cartas que eu escrevo e depois rasgo. Talvez eu precise queimar. Rasgar o vento com meu corpo.

domingo, 3 de julho de 2011

Tiro Certo.

Foi como um tiro certo de arma de fogo
E nem um pouco tive medo do disparo
Do embaraço que faz meu pensamento
Quando a vejo caminhando junto ao vento
E fui tomado de delírios e grande amor
Quando seus olhos como bala me acertaram
Foi meio tiro no peito fechado
Jogado no leito em que você me viu sorrir
A querer você como bala perdida cravada em mim.

sábado, 2 de julho de 2011

Ego, Anos e Cantos Perdidos.

Passei anos e anos seguidos da vida
Buscando cantos perdidos
Procurei em todos os cantos
E em anos de prantos também me perdi.

Direção da Noite.

Lá ia eu, meio sonhador pelas ruas caladas
De mãos dadas com todos os meus anseios
E até minhas tristezas festejavam aqueles passeios
Sob a luz das estrelas pinceladas

Minha camisa velha, cheia de furos 
Revelavam as chagas ao meu redor
E atento, com minha luneta, admirava a Ursa Maior
Que sempre me protegia de grandes apuros

Meus olhos fotografavam, espertos, todo o caminho
Mas as vezes se perdiam nos olhos de alguém
Encontrando-se em um plano bem mais além
Na direção de onde vento guardava o passarinho.







terça-feira, 14 de junho de 2011

Poeteiro Maluco.

Sou místico, um astrólogo autodidata
Feito mistério envolto no mundo
Sou fogo leonino, aquele feixe de luz do astro rei
Eu sou o Soul e a poeira que o vento tirou do chão pra voar
Sou a semente pecadora, que espalha-se em bando de grão em grão
Até crescer como árvore de desejos
E desabar feito você em meu peito

Sou espelho quebrado, desmonto o desmontado pra prestar
Sou relógio sem ponteiro, o poeteiro maluco 
Louco cogumelo colorido de ilusão
Que sonha em nunca acordar 
E anda de costas pro tempo voltar

Sou facilmente refração
E fragmentos dos outros
Porque somos feitos do que nos passam
E fazemos os outros no que deixamos
Ninguém é nada sozinho
Mas eu também não sou ninguém
É o que dizem os gnomos do jardim.

domingo, 12 de junho de 2011

Não lembro muito de como a conheci
Foi algo tão natural e rápido
O momento ideal não teve
Mas foi o suficiente
Pra saber que ela não seria a pessoa certa
Ela era perfeita
Mas perfeitamente tudo o que eu não queria
E sua mania de piscar freneticamente
Não agradava meus olhos
Que só queriam ser fixados pelos olhos dela
Por isso gosto dos espelhos
Eles mostram exatamente o que quero ver.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Maria de Todos os Santos.

Não é somente Maria
É a semente de se encontrar e se perder
Naqueles olhos em stéreo
Somos mistério aveludado em seu vestido
Constelação de Virgo, que nos enlaça a retina
Amorosa em sua fonte estendida de nós

Maria é o perdão dos pecadores
É o pecado de todos os santos
É a corôa de Cristo e o beijo de Judas
Não é apenas Maria
É Maria de todos os santos
De todos os prantos, que a ela confiamos

Com Maria o tempo morre em sua boca
E nasce em miudezas de fragmentos futuros
Dos apuros passados em seu corpo
Da sua flauta livre e traidora do seu canto
Não é como tantas outras Marias
É Maria de todos os santos
De todos os pecados que revela o pensamento.
Ela me trama, me trata feito vagabundo
Diz que faço e perfaço tudo errado
E calado tenho que aceitar
O ordenado desmedido
Do seu jeito perseguindo meus passos
Mas ela se esquece todo minuto
Que eu que a chamei pro mundo
E a retirei do fundo que ela criava
Pra se isolar dos outros
Levando uma vida cega de si
E ainda quer que eu fique mudo
Diante das miudezas de suas prosas.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Troca.

Se você segue em linha reta
Eu faço a curva
Se tem medo de água
Eu pego chuva
Se és de família
Eu sou do mundo
Você gosta da beira
E eu do fundo
Não crê em nada
Eu acredito em tudo
És sempre a mesma
E todo dia eu mudo
Você fica muda
Eu nunca calo
Adora ficar em casa
E eu na rua
Você deixa a porta se fechar
E eu estou sempre ali para arrombar.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Vontade inventada pelos cantos
O real nunca é suficiente pra quem quer mais um tanto
Permanente ilusão dormente
Que paira cansanda nos ombros alheios
E revela o segredo extraviado pelo vento
Em sentido desmentido do acaso
Vida torta, realidade morta
Lugar de fantasia embriagada pela fonte
Da ponte descuidada, ébria, nada calada
Como realejo stério do meu desejo
Mistério da beleza do mundo
E tudo que mais belo existe na resistência do ego
Visão encavernada de quem não se inventa
E vivem em um mundo sendo tão poucos
Distantes de todos os loucos que vivem sendo mais de um
Que encontram um novo tempo
Onde lá também podem ser vento
Ou se fazer feito chuva caída no leito do rio.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Noviços Tropicalistas.

Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor
No céu azul, azul fumaça
Essa nova raça
Saindo dos prédios para as praças
Tão, tão vivas quanto a morte
Não tem sul nem norte
E nem passagem
É ferro na boneca
É no gogó neném
E não se assuste pessoa
Se eu lhe disser que a vida é boa
Não se assuste pessoa
Se eu lhe disser que a vida é boa
Besta é tu, besta é tu
Porque enquanto eles se batem
Dê um rolê
Assim vou lhe chamar
Assim você vai ser
Mostrando como é
E sendo como pode
Deixando a lei natural dos encontros
Se manifestar
Sendo o mistério do planeta
Um moleque do Brasil
Acordando toda gente
Tão sueve mé
Que suavemente
Abelha carneirinho
Misturando seu mel com bicarbonato de sódio
Só pra deixar a garganta em dias
Cobrindo sua surdez
Porque ja somos pessoas sem ódio
E no mais, tudo na mais perfeita paz
Pensando que tudo é futebol
Sem "preocupations"
Tenho 29 beijos pra lhe dar
Procuro 99 vezes, depois deixo pra lá
De um lado o olho desaforo
Que diz o meu nariz arrebitado
Que não levo para casa
Mas se você vem perto eu vou lá
Eu vou lá
Com 29 beijos pra lhe dar
Porque só nos seus olhos me vejo marrom
Que bom
Que bom que a menina ainda dança

domingo, 15 de maio de 2011

18:15

Era um convite pra morrer no pôr-do-sol
Debate sem conversa, carta sem destinatário
Prestava atenção na passagem do trem
E não mudava seu jeito em cada estação
Lia jornais da semana passada
Sujos de café, borrados de lágrimas
Nunca soube amar
Acostumou-se com sua rotina nublada
Sem sol, sem água
Sem festas, sem amigos, sem bebidas
Sem alguém que pudesse amar

Passava um tempo olhando sua janela
Sentada numa gasta cadeira de balanço
Seu relógio sempre parado
Sem pilha pra girar
Marcava a hora do sol cochilar
Mas um dia querendo mudar aquela vida
Pra nunca mais ter que sofrer
Na hora do sol morrer
Resolveu daquela janela se jogar
Rasgou o vento com seu corpo
Pra nunca mais voltar.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Ventre Aquariano.

Procurei um esconderijo
Por entre as curvas do corpo dela
E me embriaguei com o cheiro que só ela tem
Mas sua retina atenta, sempre buscando a verdade
De boa aquariana que é
Revelou minha presença
E desfolhou cada palavra bonita
Que a muito tempo me engasgava
Entre gritos diante do espelho, portas fechadas no rosto
Um adeus qualquer e perdões no meio fio
Voltei a ser extremo no ventre dela
E até hoje não sei se é feita serena
Ou coberta de nervosismo
Se é louca ou altamente conservadora
Só sei que ela me ama
E vive como o tempo, nunca sendo a mesma
Mas seria tão melhor se ela soubesse
Que, na verdade, sou filho da poeira do céu
E escravo de tanto amor.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um dia sou ninguém
Outro dia multidão
As vezes moro em castelos
Outras vezes debaixo da poeira do chão
Tem dias que sou a cabeça do mundo
Todo dia coração vagabundo
Todo dia uma nova forma de ser
Algo diferente
Uma nova linguagem me ler
Pelas entrelinhas do seu português errado.

sábado, 16 de abril de 2011

Ponta do Acácio.

Desfruta o tempo
Como quem distrai lendo biografias
Respira teatro,  pesca sonhos
Indica livros
Transforma os atos
Dorme pra fugir da realidade
Enquanto vai morrendo cada dia um pouco
Tem gente que decora a vida na ponta da língua
Outros fazem rabiscos no próximo passo
Na ponta do acaso
E é por isso que Acácio acredita no relógio
E paralisa o ponteiro com belos retratos
Tirados dos esquadros de janelas aleatórias
E Pra ver se faz alguma coisa mais séria
Tenta trazer as estrelas pra perto do mar.

domingo, 10 de abril de 2011

Real Engenho.

As mãos pesadas torturam e vão
Trucidam sem piedade
Perdem o valor de acarinhar
E o coração de dor chora
Humano tão desumano
Pesada alma sem amor
Inocentes sentem o peso
O peso de parar no tempo
O vento do massacre covarde
Uma página difícil de virar
Revelando os olhos de medo
As lágrimas de cada mãe
De cada galho que perdeu sua flor
E as memórias marcadas nos azulejos
Nos quadros negros, nos livros
No escuro da vida
Na chama que se apagou
Na mente de quem teve a felicidade assassinada
Num toque mudo do realejo
Triste Real Engenho
Que em lágrimas virou um mar de flores
Agora ensina novos barcos
Por onde navegar.

domingo, 3 de abril de 2011

Estação dos Pêssegos.

Eu sou livre pra ser o que me der na telha
Pelo menos corro atrás disso
Luto por tudo que quero
E cantarei meu Soul se quiser

Eu sou livre pra aproveitar cada pedaço de chão
Amar por um instante qualquer besteira
Querer duas vidas em dois segundos
E se está certo ou errado, não importa
Porque pra mim está tudo bem

Você só vê o que as pessoas querem que você veja
Você só é o que querem que você seja

Você é livre pra estar onde quer que você queira
Porque a estrada pertence aos viajantes
E a vida é sua, o tempo é seu
Você pode rasgar o vento se quiser
Porque estamos na estação dos pêssegos
E já não somos mais tão cegos
Vemos as coisas simples do dia
O mundo nos detalhes miúdos.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Roda Da Fortuna.


Somos etapas, somos fases
Somos o que tempo deixa
E o que levamos dele
Somos o mau e o bem da vida
Carregamos odios e amores escondidos
Deixamos pedaços de nós
No corpo dos outros
Assim como levamos um tanto
Somos lascas de diamantes
E restos de carvão em brasa
Somos egoístas por natureza
E calamos nossos defeitos
Revelando sempre o melhor ângulo
Somos tudo, inclusive a perfeição
Somos a palavra, a evolução
Somos a cultura, a contracultura, a tortura
Somos as guerras passadas
E as guerras futuras
Somos o tempo que corre
Que volta e que estanca
Somos o que o vento leva
E o que o destino trás
A roda da fortuna
Somos a confusão das coisas
Somos as coisas
Somos a metamorfose ambulante de Raul
Somos variantes
Somos berros no meio da noite
Vidros quebrados
Remendos de tecidos
Somos o beijo do despertar
Somos a fúria do sexo
E a delicadeza do olhar
Somos o tudo do nada
Somos metade de nós mesmo
Somos todo mundo em silêncio
E em silêncio também pensamos em não ser
O que somos na multidão
Somos as mãos que esganam
As mãos que acariciam
Somos o coração que pulsa
O coração que calado chora
Nunca somos os mesmos
Não enquanto vivermos.

Sonho Sertanejo.

Nos bares dos postos de gasolina
É o calor, o ardor, o fogo da pinga
Escorrendo pela garganta dos rapazes
Sorrisos das moças nas mesas ao lado
E mais cachaça rasgando goelas à baixo
Amigos com passagens pra lugar algum
Viajantes feito as poeiras da terra do chão
Acham mais amigos nas caronas de caminhão
Caminhonete com bela dama, com velho amigo cantor
E ganham estradas desconhecidas
Ao som de Raul Seixas e Bob Dylan
E cobertos pelos mistérios das estrelas
Com conversas jogas à frente das fogueiras
E sonhos emprestados de um pros outros
Realizados em bando
Protegidos pelos cantos do sertão.

domingo, 20 de março de 2011

Mamefusolatos.

Somos todos negros, brancos e amarelos
Com marcas herdadas nos traços mais fortes
Sangue misturado pelo tempo
E almas livres como o vento
Que leva a dor e a desfolha
Que leva a semente e a faz brotar
Somos todos da mesma raça
A raça de saber amar
E reconhecer no diferente o espelho da vida
A luneta curiosa que enxerga além da pele
Somos feitos dos feitos dos outros
Da pura mistura do destino
Que desfez os caminhos de sofrimento
Agregou o diferente nos olhos
Porque ninguém mais é um só
Somos todos pedaços dos outros
E únicos por sermos assim
E apesar de nossas mãos ainda torturarem
Nosso coração escondido chora
Porque surgimos da mesma carne
E sentimos em silêncio a dor de quem sofre.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Amnésia.

As vezes eu amo tanto
Que esqueço que estou ferido por tanto amar
Outras vezes tiro férias do mundo
E esqueço de voltar
Vivendo no esquecimento das coisas
Das coisas que queria lembrar
Minha memória se acostumou em falhar de tanto fingir esquecer
Vou assim me jogando nas falsas recordações
Tentando lembrar da voz dela nos meus ouvidos
Esquecidos como os vitrais daquela velha janela
Que de velhice ficaram opacos
Feito a memória do gosto dela na minha boca
E o tempo assim vai passando e apagando minhas lembranças
Desfolhando as fotografias guardadas
Rasgando a memória do mundo em fim
Criando simples situações pra ver se acredito
Inventado um momento que nem sei se existiu
Tentando iluminar a memória que teima em findar em mim.

terça-feira, 15 de março de 2011

Amor e Psiquê.

Era o amor em toda condição de existência
Beleza escondida com o poder de fazer amar
E apaixonar corações desconhecidos
Até que todo o amor de suas setas acabou
Quando à uma alma o confiou
Uma bela alma que nunca se deixou amar
E se deixava à sorte do destino
Quando num sopro clandestino a ele também se entregou
Tendo a face desse amor segregada
E mesmo com o amor aos seus pés
A psiquê atacou-lhe a inquieta alma
Num impulso sem nexo, uma chaga na confiança
Torturou, trucidou e feriu o puro amor
E a psiquê em retrocesso
Com seu coração que depois chorou
O arrependimento foi pra perto
E um vazio no peito, feito deserto, visitou-lhe e abraçou-lhe a alma
E em busca do amor se pós em vagar no mundo
Experimentando outras carnes, outros sopros de alma
Sendo uma pisquê apaixonada
Uma loucura sempre desconfiada, sentindo grande dor
E esperando o fado de um amor inventado
Até achar o verdadeiro ladrão do seu coração.

sábado, 12 de março de 2011

Carta de Índia.

Tento marcar em palavras o que o vento sopra nos meus ouvidos
O que o tempo não desfez e deixou revelado em fim
Então, escrevo cartas para o futuro incerto
Algumas extraviam-se pelo caminho
Outras perdem-se dentro de mim
Mas um dia chego no fim de ver as coisas acontecendo
Diante dos meus olhos pernoitados
E dos meus dedos treinados 
Que não cansam de escrever cartas pra desconhecidos
Pra amigos queridos e parentes falecidos
Que olham pra mim do fim do céu
Que me convidam pra ir ao mar
Pra ter o que dizer, pra ter o que contar
Depois que eu voltar do fundo sem fundo de mim.

Coração de Pano.

Veio do pano lá do serrado
Cabelo cacheado feito de trapo
Rosto maltratado pelo relógio
Sentimento gasto pelo tempo
Novelos jogados ao vento
E um lugar maltrapilho pra chorar
Molhou a retina
Sujou a água cristalina
Secou o mar pra virar sertão
Vendeu as flores das chitas
Por perder seu coração
E rasgou o tecido da pele
Revelou suas emendas
Desfez o laço vermelho de cetim
Depois embaraçou a lã do carretel
Despediu-se de seu belo corcel
Rasgou sua renda importada
Parou de querer amar
De tentar se encontrar
E isolou-se num velho baú de madeira de lei
Cobriu-se com veludo, feito esposa de rei
Dormiu durante toda a vida
Fantasiando como quem sonha.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Lugar Incerto.

Fico e tento
Meio esperto no destino reto
Hoje não tem pala certa
No lugar perdido, incerto
No carro de teto aberto no meio da rua
Vida em céu deserto
De quem olha a lua
Em versos.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Flores no Deserto.

Caiu no concreto e revelou-se
Despertou a retina
Veio ao mundo sem pedir licença
E em silêncio foi ganhando voz
Feito flores no deserto
Se tornou raro, malandro caro
Um malandro do Brasil
Mapa pra qualquer lugar
Que tem no destino as respostas certas
É dono da terra e das palavras
É Loki, é hippie, é tudo ou quase tudo o que quer
Tem a vida no cangote, sujeito de sorte ele é
Tem o céu, a água e o mar desenhados nos olhos
Jeito transcendente aquele bicho tem
E feliz é a forma que se dirigem ao nome dele
É flores, é concreto, é mar e sertão
É leão, é leonino, é o meio-fio da luz do astro-rei
É o início, o fim e o meio de nós
Repitidamente uma nova forma de ser.

terça-feira, 1 de março de 2011

Veneno em Mim.

No mundo há muitas armadilhas
E uma delas é você ou você é todas elas
Bueiro de cobras
Escorpião de Ártemis
Veneno da serpente
Que de repente me marca a pele
Feito tatuagem negra
Viúva negra, sem você me desfaço
E perfaço em pensamento o caminho do pecado
Do seu corpo mulato
Que malvado me desfolha a alma
E me cega com seu olhar seguro
Uma cegueira surda feito sua fala

Não me importo de viver na sua garra
De comer o pão que você amassou
Serpente, você me conquistou
Mesmo sofrendo em stéreo
Do vivo mistério em que você se transformou
Ainda te quero veneno no meu sangue
O embaçado no vidro do carro
O movimento de tudo ou quase tudo no meu corpo
Porque isso é repetidamente nosso
Isso é veneno seu, é assim
Você tem que existir
Pra eu poder sofrer
Você é veneno em mim.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Morfeu Pior Que Eu.

Seu sono crítico
Sem ritmo pra continuar
Morfeu pior que eu
Sonhou
Dormiu
Morreu
Na noite tortuosa
No lago preto breu
Seu discurso tanto faz
E o que viu por lá
O vento trás
Perdendo as flores no caminho
Num cantinho surreal
Distante da lucidez
Amargando tudo pelas beiradas
Deixando pra marcar estradas
Com coisas dos sonhos nossos
Um laço
Um canto
Um traço
Feito sonho crítico
Que sem ritmo se vai.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Desfolha.

Desprendeu-se do galho
Caiu na estrada e revelou-se
Desfolhou a pele morena
Chamengo do sol
Esconderijo de sombra
No espelho negro dos olhos
Fez-se mudo e brotou no solo rente
Sem plano, sem vento
Sem tempo, sem ano
Fácil lembrança do que era
Ou uma simples utopia de vida
Traços e tintas
Numa estrada sem acostamento
Nem carências nem lamentos
Da flor que não quis enraizar
Vaga no mundo
Feliz em voar.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Forasteiro.

Sou um cabra da peste
Difícil de lidar
Criado no agreste e rejeitado pelos pais
Por sonhar demais
Pensar demais e mais e mais
E quem acha que eu sou um zero à esquerda
Com certeza não me conhece
Sei das coisas do mundo
E não é atoa, não
A vida de vagabundo
Me fez sentir as coisas todas
Dia ruim tenho vários
Dia bom tenho todos
Cicatriz é consequêcia de quem vive
E sou cheio delas
Dentro e fora de mim
E pra disfaçar revivo aquele velho baião
Na estrada de barro, da poeira do chão
Do chinelo rasteiro
Rasteira multidão

Forasteiro feito aqueles do velho oeste
Já matei o diabo por três vezes
E três vezes mais se ele voltar
Porque eu vivo de baixo de sol
Encima do chão quente de morrer
Da estrada quente de rachar
E gosto dessa vida na mochila
Daquele compacto no fim da tarde
Do cacto quebrando a paisagem
E da fogueira inca feita natural
Do barzinho de quinta no meio do nada
Das prostitutas velhas e sujas no meio da cama
Do dinheiro roubado no meio da mesa
E no meio da goela pinga queimando
Queimando garganta à baixo
E a felicidade garganta à fora
Então eu grito o que eu sou
Um dez à direita
Aquele que matou o diabo
Diacho, levo a vida na cor.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

E
Eu
Eu só
Eu só quis
Eu só quis você
Eu só quis você perto
Eu só quis você perto de
Eu só quis você perto de mim
Eu só quis você perto de mim, mas
Eu só quis você perto de mim, mas as
Eu só quis você perto de mim, mas as palavras
Eu só quis você perto de mim, mas as palavras afastam-te
Eu só quis você perto de mim, mas as palavras afastam-te no
Eu só quis você perto de mim, mas as palavras afastam-te no fim
Eu só quis você perto de mim, mas as palavras afastam-te no
Eu só quis você perto de mim, mas as palavras afastam-te
Eu só quis você perto de mim, mas as palavras
Eu só quis você perto de mim, mas as
Eu só quis você perto de mim, mas
Eu só quis você perto de mim
Eu só quis você perto de
Eu só quis você perto
Eu só quis você
Eu só quis
Eu só
Eu
E

Um Dia de Chuva.

Acordei no meio da madrugada
Com gotas de chuva escapando
Pela brecha da janela aberta
E lavando meu rosto gelado pelo frio daquela hora
Na primeira noite de poucas
Em que a insônia não me visitou
E enfim me deixou dormir mais cedo
E mais cedo acordei pra um dia de chuva

Enquanto lia o jornal da semana passada
A chuva ainda rolava solta na rua, na lua ainda no céu
E foi assim enquanto pegava o ônibus
E enquanto descia dele
Ao som de "Champagne Supernova" do Oasis
Pra pintar nas telas daquelas moças
Daquelas poucas em que ainda falo

Cansado de andar na margem das coisas
Pra chuva não me banhar
Coloquei  meu chinelo severino
Ou de Jesus Cristo como dizem
Dentro de uma sacola doada
Por uma velha sorridente que nem vou esquecer
Assim como um retirante bruto
Desses caipiras no meio da cidade grande
Me pus a andar naquele temporal
Descalço, calça branca, sacola na mão
Mochila pesada guardando um bocado de discos do Chico

Andava lento, como quem tivesse debaixo de sol
Sendo olhado por todos que tinham medo da chuva fria
E naquela caminhada de alguns minutos
Todas as horas da minha vida me sorriram
E passaram velozes na minha cabeça
Saudade de lugares, de amigos, de parentes
Saudade de mim mesmo, saudade de quem nunca vi
De pessoas que ainda não conheci
Lembrança do meu primeiro livro, "O Menino de Brodósqui"
Velho Haroldo me mostrou o eterno Portinari
E num cenário bonito minha vida em minutos
Assim como minha mãe falava de Renato Russo

Minhas lágrimas beijavam as gotas daquela chuva
E transavam em grande harmonia e simetria
Virando uma só no ponto de fuga do queixo
E enquanto andava, ali, na tempestade
Ventania forte balançava minha "bolsa de mandiga"
E via o brilho do colar
E que aquilo podia ser Deus ou Zeus
Ou o universo nos pequenos detalhes

A chuva me banhou como nenhuma água fez
Lavou a pele da minha alma
E me entregou algo que não tem explicação
Acho que me trouxe a mudança
Revigorou o leonino manso
Tranquilizou um corpo inquieto por dentro
E despertou mais sensibilidade ao olhar o mundo
E entender que mesmo um vagabundo tem seu valor
Então, vamos nos molhar nessa chuva que transforma
Esquecer a água pra se afogar
Quando tudo pode tá perdido
Deixem a janela meio aberta em um dia de chuva
E tudo pode começar a mudar.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Verdade Leonina

Reconheço bem, meu bem
Os azulejos que pisei
E os realejos que escutei
Enquanto o tempo se desfazia
Em poeira, vento, ventania
E que se perderam nos cantos do mundo
Feito sopro mudo
No ouvido de quem se fez surdo
Pra verdade não escutar
Então a canalhice encheu o peito leonino
E cantou um baião nordestino
No lugar de quem calou-se
Pra ver o mundo estancar em mentira
E esquecer da verdade que Caetano tando dizia
E repetia em cada devaneio nacional
Realidade morta, vista torta, verdade tropical.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Relógio da Vida na Morte.

Eu pensei que quando eu morresse
O tempo pararia pra mim
E veria o tempo passar em desgraça
No relógio de quem ainda vive

Descobri que o tempo corre na morte
E traz consigo sofrimentos de uma era
E já era aquela minha fantasia torta
Que coisa morta dorme em paz

A morte imita a vida com todos os mais
A diferença é que não sofremos por nós
Mas carregamos as consternações de vocês
Em costas largas e cansadas por tanta dor
E choramos por pecados do tempo vivido

Então, o que há de bom em morrer?
Só queria acordar para o mundo
E ver o meu tempo rolar em metros de chão
Dançar meu baião vagabundo e arrastado
E sentir a minha própria dor.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Olhar na Madrugada.

É no preto breu da madrugada
Preso na insônia calada
Que tudo o que se viveu antes faz sentido
Onde tudo encontra-se metido
No silenciar da mente vazia
Que transparece nos lentos olhos
E se misturam em passos tortos
Tal como as vozes atrapalhadas
Dos vagabundos, boêmios e canalhas, lá fora
Que sussurram raras filosofias
Nas ruas, nos bares, nos males da fossa fria
E nos prédios a Bossa rolando nova
Escondendo a lua quase morta pelo sol
Guardando em segredo pequenas incertezas
Pensando em tantas palavras que se apagaram
Sendo o reverso de tantas outras
De tantas loucas que não podem dormir
Então refletir é o que lhes restam
Esquecer seus olhos cansandos
No preto e branco retrato guardado
E lembrar de como seu sorriso mudou
E calou em cada noite mal dormida
E renasceu na outra madrugada
Na madrugada da cor dos olhos de Frida.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O Brasil é Meu Quintal (Sempre Quis)

Nunca fui à Bahia
Mas de longe ela me sorrir
Nunca fui ao Rio
Mas sei que de lá nunca sai

Amo a terra nortista
Até sua chuva no meio da tarde
Mas já é tarde pra ficar
Porque com todo esse anil
Feliz dizer, meu amigo
Meu quintal é o Brasil

Minha mãe é nortista
Meu avô nordestino, sempre quis
Tenho tio gaúcho
Amigo capixaba
E vizinho do central do país

Quero apenas ser brasileiro, sempre quis
Andar por todos esses cantos
E ter o trópico inteiro
Como meu quintal
Brasil é minha terra natal
Terra de poucos, terra de todos
Terra tropical.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Tríplice Mistério.

Poeiras da terra que trazes tristezas vizinhas
Adivinhe onde nos perdemos
Se foi em dias, noites ou secas severinas
Trague junto ao peito todo o efeito
Ou mal algum de mazelas feitas
E nos traduz ladeira à baixo
Em rezas e crenças ou nos mostre uma luz opaca
Daquela criança pálida e de pés descalços
Rachados como o lamento sertanejo
Inteiros como vimos no Amaral
Trague junto ao leito
Um devaneio corriqueiro
Com lagoa e com coqueiro
Um oásis pra baleia se banhar
E quando o mar secar e a alegria chegar em fim
Vamos todos pra Bahia, vamos
Ou nos achar pelo Pará
Na vasta mata, na bela mulata
No imenso pé de jacarandá
Uma vez esquindole-lê
Outra vez esquindola-lá
Chance de escorrer e estancar seguro
Na caminhada por entre o balé de galhos
Com a cabeça quente de morrer
E só haverá tempo de pensar
Esse rio de gente que anda
Há de um dia chegar
No canto em que o passado descansa
E um traço na terra marcar
Por três mistérios tropicais.

                                        Felipe Acácio/ Chay Suede/ Caio Flores.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Som de Umbanda.

Rainha do Mar de Umbanda
Você acolá na banda
Rainha do Mar e do samba

Que bamba, aiô, aiá
Que bamba na flor e no mar

E no sertão a alegria do carnaval
Não é do mal, ô Maria
Não tem tristeza nem agonia

É carnaval na Bahia, alô, alô
Carne do mal, aiô, aiô
Vida carnal dançar
Terra de Deus e Iemanjá

Alô, alô, carnaval. 
Carne do mal, aiô, aiô. 
Vida carnal dançar, aiá, aiá

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Como Fênix.

Vamos modificá-los
Renascer como a fênix
Vamos transformá-los
E esquecer nossos tênis
Andar descalços
Com braços presos
Uns nos outros

Mudar a mente
E caladamente partir
Por estradas aleatórias
Levar belezas esquecidas
E carregar nas costas
O olhar indiferente daquela gente isolada
 
Vamos abrir as portas
Pra uma nova sociedade passar
Sem idéias mortas ou pensamentos inacabados
Vamos nos alimentar de música e poesia
Enlouquecer com outros loucos
Viver em paz, ar puro e alegria.