Somos etapas, somos fases
Somos o que tempo deixa
E o que levamos dele
Somos o mau e o bem da vida
Carregamos odios e amores escondidos
Deixamos pedaços de nós
No corpo dos outros
Assim como levamos um tanto
Somos lascas de diamantes
E restos de carvão em brasa
Somos egoístas por natureza
E calamos nossos defeitos
Revelando sempre o melhor ângulo
Somos tudo, inclusive a perfeição
Somos a palavra, a evolução
Somos a cultura, a contracultura, a tortura
Somos as guerras passadas
E as guerras futuras
Somos o tempo que corre
Que volta e que estanca
Somos o que o vento leva
E o que o destino trás
A roda da fortuna
Somos a confusão das coisas
Somos as coisas
Somos a metamorfose ambulante de Raul
Somos variantes
Somos berros no meio da noite
Vidros quebrados
Remendos de tecidos
Somos o beijo do despertar
Somos a fúria do sexo
E a delicadeza do olhar
Somos o tudo do nada
Somos metade de nós mesmo
Somos todo mundo em silêncio
E em silêncio também pensamos em não ser
O que somos na multidão
Somos as mãos que esganam
As mãos que acariciam
Somos o coração que pulsa
O coração que calado chora
Nunca somos os mesmos
Não enquanto vivermos.